Cotonicultores, governo e comunidade científica unem forças em uma investida
de R$17,7 milhões contra a mais perniciosa praga das lavouras de algodão
Publicado em: 11/09/2017
A assinatura de um Acordo de Cooperação Técnica entre a Associação dos
Produtores de Algodão (Abrapa), o Instituto Mato-grossensse do Algodão
(IMAmt), a Embrapa e a Fundação Eliseu Alves, no valor de R$17,7 milhões,
para o desenvolvimento de uma variedade de algodão transgênico resistente
ao bicudo-do-algodoeiro pode ser o primeiro passo para o Brasil galgar
patamares mais altos no ranking dos maiores exportadores mundiais de algodão.
O país ocupa o quarto lugar nesse pódio, e, pela estimativa dos cotonicultores,
pode alcançar o segundo, em cinco anos, hoje ocupado pela Índia, se crescer
a uma média de 15% ao ano. Para isso, erradicar a praga que repre senta
um acréscimo de cerca de 10%, ou US$250 por hectare, nos custos de produção
é uma prioridade para cotonicultores, governo e iniciativa privada. A Parceria
Público Privada (PPP) foi estabelecida na manhã dessa quarta-feira (06/09),
na sede da Embrapa, em Brasília.
Os recursos disponibilizados pelo IBA para a cooperação técnica serão
utilizados para acelerar as pesquisas que já existem em desenvolvimento
de plantas resistentes ao bicudo e possibilitar a intensificação dos trabalhos,
através da Plataforma do Algodão. Ela prevê etapas em curto, médio e longo
prazos, até que se chegue à planta definitiva, o que costuma levar de dez
a 15 anos. No Acordo de Cooperação Técnica, caberá à Abrapa captar os recursos
junto ao IBA e repassá-lo, conforme cronograma físico-financeiro, para
a Fundação Eliseu Alves, que será responsável pela gestão do montante a
ser utilizado pela Embrapa, e para o IMAmt, que executará parte do projeto.
A Embrapa e a Abrapa se comprometem a, em um prazo de 30 dias após a assinatura
do termo, constituir um comitê gestor que irá elaborar um regimento interno,
constituído por três representantes da Embrapa e três da Abrapa.
A cerimônia de assinatura contou com a presença do chefe de gabinete do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Coaraci Castilho,
representando o ministro Blairo Maggi, dos presidentes da Embrapa, Maurício
Lopes, e da Abrapa, Arlindo de Azevedo Moura, do presidente executivo do
Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), Haroldo Cunha, do diretor do Instituto
Mato-grossense do Algodão (IMAmt), Alvaro Salles, do diretor presidente
da Fundação Eliseu Alves, Alexandre Barcellos, da diretora-executiva da
Embrapa, Lúcia Gatto, do chefe-geral da Embrapa Algodão, Sebastião Nascimento,
do diretor executivo da Abrapa, Marcio Portocarrero, dentre diversos membros
da comunidade científica.
PRODUTORES TECNIFICADOS
Em seu discurso, o presidente da Embrapa, Maurício Lopes, rememorou a
história da atividade algodoeira no país, enfatizando o período de migração
para o cerrado que, segundo ele, ressignificou a cotonicultura nacional.
“Esse setor representa muito bem o que o Brasil se tornou: mais que uma
nação agrícola, uma potência em agricultura no mundo, e é um orgulho para
a Embrapa ter participado desse processo”, disse Lopes, dando como exemplo
os resultados da safra 2016/2017, que deve fechar em 1,5 milhões de toneladas
de pluma. “O Brasil já importou algodão, depois se tornou um grande produtor,
até que veio o bicudo. A migração para o cerrado representa uma retomada
da nossa cotonicultura”, explica o presidente da Embrapa.
O presidente da Abrapa, Arlindo de Azevedo Moura, disse que o incremento
nas exportações brasileiras, com o combate mais assertivo ao bicudo, pode
fazer a cultura voltar a ser expressiva em estados como Alagoas, que sediou,
na última semana, entre os dias 29 de agosto e 1° de setembro, o 11° Congresso
Brasileiro do Algodão (11° CBA). “Alagoas já foi um grande produtor e processador
da fibra, tanto que o algodão está até na bandeira do estado. Mas não produziu
um único capulho nas últimas safras, e o bicudo é uma das razões pela qual
a atividade foi devastada em seu território. Com a volta dessas regiões
à produção, mesmo com produtores de pequenas áreas, vamos contribuir para
incrementar a oferta brasileira da fibra. Este projeto nos possibilitará
alcançar a meta de dobrar a produção em cinco anos”, afirmou. Ainda segundo
o presidente da Abrapa, Arlindo Moura, o algodão não precisa ser uma atividade
de grandes produtores. “Mas precisa ser de cotonicultores tecnificados.
E a tecnologia pode ser difundida para os pequenos. Isso fará dele a grande
commodity do Brasil”, disse.
MARCO HISTÓRICO
Possibilitado pelo aporte de recursos do Instituto Brasileiro do Algodão
(IBA), o desenvolvimento de uma variedade resistente ao bicudo será um
marco na atuação do IBA. “Será, sem dúvida, um divisor de águas. Atualmente
o bicudo é um problema quase exclusivo do Brasil, se considerarmos que
se trata de uma praga que incide majoritariamente na América do Sul, e,
nessa região, nosso país é o produtor que impacta na oferta mundial da
fibra. Sendo assim, muito dificilmente haveria investimento internacional
para buscar soluções. O êxito nessa iniciativa vai resultar em uma tecnologia
exclusivamente pensada para as nossas condições, que vai favorecer diretamente
a produtividade, a redução dos custos e, consequentemente, a competitividade
do Brasil no cenário mundial”, afirma Haroldo Cunha, presidente executivo
do IBA.
Nas palavras do chefe de gabinete do MAPA, Coaraci Castilho, a Plataforma
do Algodão representará um impacto positivo, tanto na produtividade quanto
na geração de renda em toda a sua cadeia produtiva. “Iniciativas como esta
precisam ser aplaudidas e incentivadas. As parcerias com o setor privado
são fundamentais, na visão do ministro Blairo Maggi, para impulsionar a
ciência e a tecnologia em nosso país”, recomendou Castilho. O bicudo chegou
ao Brasil há aproximadamente três décadas e é considerado o maior problema
fitossanitário da cultura do algodão.
A nova plataforma, segundo o diretor do Instituto Mato-grossense do Algodão
(IMAmt), Alvaro Salles, representa um grande desafio. “O Brasil produzindo
biotecnologia é algo que pode parecer impossível para muitas pessoas, que
acham que isso é tarefa para multinacionais e instituições internacionais
de pesquisa. Porém, há bastante tempo, nós temos observado que é factível,
sim, e isso vai ser o contraponto, assim como um grande salto em tecnologia.
Vários caminhos vão se abrir com esse projeto”, afirmou Salles