Potencial agro-ambiental do Brasil é ressaltado em painel na COP 23
Publicado em: 16/11/2017
Um painel realizado nesta quarta-feira, dia 15, no espaço Brasil na Conferência
das Partes para Mudança do Clima (COP 23), em Bom (Alemanha), discutiu
a competitividade da agricultura de baixa emissão de carbono no país. Representantes
de instituições brasileiras abordaram os avanços do Plano ABC e os desafios
ainda encontrados para expansão e reconhecimento interno e externo.
O potencial do país em ser uma potência agro-ambiental foi destacado pelos
participantes do painel organizado pela Centro de Estudo em Sustentabilidade
da Fundação Getúlio Vargas. De acordo com eles, o Brasil tem tudo para
ser reconhecido mundialmente pela sua capacidade de conciliar a produção
agropecuária com a preservação do meio ambiente, contribuindo não apenas
para baixa emissão de carbono, mas também para uma agricultura carbono
negativo.
Avanços significativos já foram dados com o Plano ABC, Cadastro Ambiental
Rural e o Código Florestal. Um exemplo é a adoção da integração lavoura-pecuária-floresta
(ILPF) em 11,5 milhões de hectares, ultrapassando de maneira antecipada
a meta voluntária estipulada pelo governo federal em 2009 para aumentar
em 4 milhões a área com o sistema produtivo até 2020.
“O Brasil é um ator fundamental no equacionamento da segurança alimentar
no mundo. Mas tem que fazer isso de forma sustentável. E a agricultura
de baixo carbono é uma introdução muito importante nesse cenário. Uma adição.
Nós já temos uma coisa muito boa e é fundamental que a gente continue progredindo,
melhorando. A Embrapa tem feito um esforço extremamente relevante. Na verdade
a Embrapa é uma das razões do sucesso da agropecuária brasileira e precisa
continuar contribuindo”, destacou o embaixador e presidente da Agência
Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex-Brasil), Roberto
Jaguaribe.
Para o embaixador, o Brasil precisa estar ainda mais presente nas grandes
discussões sobre a agricultura no mundo e mostrar sua capacidade de produção
sustentável.
“O Brasil tem uma percepção muito menos positiva do que a realidade produtiva
brasileira. E a gente está fazendo um esforço para trabalhar na redução
dessa distância. As demandas ambientais são todas extremamente relevantes,
para não dizer fundamentais. Mas existe um componente demagógico que a
gente precisa superar. Para isso é preciso engajar outros atores fora do
país que tenham uma visão mais realista, mais racional, mais lúcida sobre
a realidade brasileira”, disse o embaixador se referindo à interesses comerciais
que são ocultados em demandas ambientais internacionais.
O pesquisador da Embrapa e presidente do Conselho Gestor da Rede ILPF,
uma parceria público privada para fomento dos sistemas integrados de produção
agropecuária, Renato Rodrigues, destaca a vanguarda do Brasil na produção
sustentável quando comparado a outros países produtores de alimentos no
mundo.
“O Brasil está muito à frente de todos os outros países, principalmente
os grandes players da agricultura mundial, como Estados Unidos, Argentina
e tantos outros. Nós temos uma tecnologia, um sistema de produção, uma
política pública, instituições organizadas e articuladas buscando melhorar
cada vez mais o sistema de produção. E é isso que a gente vem fazendo tanto
pela Embrapa quanto pela Rede ILPF, buscando cada vez mais melhorar esse
sistema de produção, oferecer mais benefícios ao produtor e também levar
junto essa agenda ambiental”, afirmou.
DESAFIOS
Para que o país seja devidamente reconhecido como uma potência agro-ambiental
entretanto, ainda é preciso avançar na ampliação do crédito às tecnologias
de baixa emissão de carbono, facilitando o acesso aos pequenos e médios
produtores, além de fortalecer a assistência técnica no país.
Para os painelistas, um exemplo disso é a pequena participação do Programa
ABC, linha de crédito para as tecnologias de baixa emissão de carbono,
em relação ao total do Plano Safra. Porém, ressaltaram que as técnicas
sustentáveis não são dependentes apenas da linha de crédito oficial.
“Nem só via crédito tem havido o crescimento da adoção dessas tecnologias”,
ressaltou o pesquisador da GV Agro Ângelo Costa Gurgel.
REDE ILPF NA COP
A Rede ILPF está participando da COP 23 divulgando a tecnologia de integração
lavoura-pecuária- floresta (ILPF) e buscando junto a fundos internacionais
apoio financeiro para a implantação de um projeto chamado “Programa de
Segurança Alimentar e Nutricional, Valorização do Campo e Tecnificação
da Agricultura Tropical: ILPF, a alternativa para a agricultura do amanhã”.
A proposta, elaborada pela Rede ILPF, prevê ações para os próximos dez
anos e busca captar 1 bilhão de dólares junto a instituições internacionais.
O programa é composto por oito eixos que englobam desde ações para certificação
de propriedades que adotem os sistemas ILPF até ações que fomentem a assistência
técnica e incentivem a adoção da tecnologia. Também entram no programa
ações de comunicação e de valorização da agricultura brasileira e a transferência
de tecnologias de ILPF para a África, América Latina e Caribe.
A Rede ILPF é uma parceria público-privada criada em 2012 para fomentar
a adoção dos sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta no país.
Fazem parte atualmente da Rede além da Embrapa, a Cocamar, Dow Agrosciences,
John Deere, Parker e Syngenta.