Pesquisadores mostram como a irrigação pode potencializar a agricultura
familiar
Publicado em: 29/03/2019
Dados apresentados pelo Cadastro Ambiental Rural (CAR) mostram que a área
de produção no Oeste baiano é de 2,3 milhões de hectare, desses, apenas
170 mil hectares são irrigados. A irrigação é um auxílio fundamental para
garantir a segurança alimentar do mundo, pois não restringe o plantio somente
no período chuvoso. Entretanto, a prática dessa atividade nas lavouras
acaba gerando inúmeras interpretações. O Workshop “Fortalecimento da Agricultura
Familiar Irrigada”, realizado nesta quarta-feira (27), na Fazenda Modelo
Paulo Mizote, pôs fim ao mito de que essa prática é inimiga do meio ambiente.
“Boa parte da comida que chega à mesa da população é oriunda da agricultura
familiar. Então, é injusto não fortalecer a atividade ou dar a ela condição
de produzir mais e o ano inteiro. A irrigação é a única técnica capaz de
permitir o aumento da produtividade sem que seja necessário ampliar a área
cultivada, mas quando se fala em agricultura irrigada as pessoas associam
a algo ruim, por puro desconhecimento. Os sistemas atuais são modernos
e ambientalmente sustentáveis”, disse o professor da Universidade Federal
de Viçosa (UFV), Azis Galvão, que conduziu o painel sobre a experiência
na região.
Segundo ele, 60% da agricultura familiar no mundo é irrigada, liderada
pela China e pela Índia. No entanto, no Brasil, a atividade ainda é pouco
tecnificada. Essa realidade começa a ser mudada, com a implantação de um
projeto piloto dentro do campo experimental da Fazenda Modelo. A iniciativa
vai beneficiar alunos dos cursos técnicos da “Fazenda-Escola” e pequenos
produtores rurais do Perímetro Irrigado Barreiras Norte.
“O pequeno produtor produz somente uma vez por ano e acabou, com esse
sistema terá a possibilidade de produzir mais. Com a irrigação não ficamos
apenas a mercê das chuvas, saímos daqui com a certeza de que esse projeto
pode mudar a realidade de muitas famílias”, afirma o presidente da Associação
dos Produtores do Vale do Rio de Janeiro (Aprovele RJ), Jackson Teixeira,
um dos beneficiados pela ação.
A iniciativa, que resultou na implantação de um sistema de irrigação por
gotejamento e aspersão, é fruto de uma parceria entre o Instituto Aiba
(Iaiba), a Universidade Federal de Viçosa (UFV), o Instituto Water for
Food e a multinacional NaanDanJain, referência mundial em irrigação nas
modalidades de gotejamento e aspersão.
Para o presidente da Aiba e do Instituto Aiba, Celestino Zanella, essa
troca de conhecimento e experiências favorece a atuação do produtor, de
forma mais precisa e consciente. “Na presença de pesquisadores, autoridades,
produtores rurais, dos jovens aprendizes e estudantes de outras instituições
podemos mostrar as diferentes técnicas de produção e as diferentes técnicas
de irrigação. O objetivo é um só: provar que a agricultura, independentemente
da escala, necessita de água para produzir, e como nós vivemos em uma região
que sofre muito com veranicos, a necessidade de recorrer à irrigação para
assegurar as nossas refeições diárias é real. Contudo, desempenhada de
uma forma responsável que garanta também a segurança hídrica”, declarou.
O diretor científico do Instituto Water for Food, da Universidade do Nebraska,
Christopher Neale, reiterou a importância da irrigação na produção de alimentos
para uma população cada vez mais numerosa. Ele comentou sobre a sua experiência
no continente africano, onde pequenos produtores já utilizam pivôs centrais
compartilhados com outros agricultores, para otimizar o uso do recurso
hídrico e aumentar a produção em grupo.