Tecnologia promete redução de tempo, custo e precisão de aplicação
Publicado em: 07/10/2019
O mercado de drones está mais do que em alta. Prova disso é que do ano
passado para cá o número de empresas que produzem, desenvolvem softwares
ou prestam serviços com drones quase triplicou no país. O número de cadastrados
aumentou 55% em um ano. Em 2019, o sistema de cadastros da Agência Nacional
de Aviação Civil (Anac) conta com 71.561 drones cadastrados, sendo 26.016
profissionais e 45.545 recreativos.
Um setor que representa cerca de 15% do Produto Interno Bruto (PIB) não
poderia ficar atrás. Só o agronegócio já é 40% do total do mercado de drones.
Nos últimos anos também cresce o número de novas empresas voltadas para
produzir tecnologia para os Veículos Aéreos Não Tripulados (Vants). São
mais de 300 agtechs que trazem no DNA a inovação que assegura um bom negócio
e inúmeras vantagens para o produtor rural.
Da mudança de planos à oportunidade
A pulverização exerce papel muito importante em uma lavoura. Proteção
contra pragas, doenças, insetos e a nutrição que a planta precisa para
resultar em produtividade. Pulverizar é distribuir a planta em pequenas
partículas e tentar alcançar o máximo da lavoura, seja com máquinas ou
com pessoas. Nem sempre isto é possível pelo tamanho do equipamento, pelo
terreno e pela incidência de pragas em determinado ponto do talhão. No
caso humano entram os riscos à saúde pelo contato com os químicos e a demora
na conclusão do trabalho, muitas vezes, realizado sem uniformidade.
Nessa oportunidade que os drones encontraram mercado. Primeiro o equipamento
percorre a lavoura e identifica os locais onde há necessidade de fazer
a aplicação. Os produtos usados posteriormente podem ser os químicos, apenas
na área infestada, e os biológicos que podem ser usados para ovos de vespas
em cápsula biodegradável, responsáveis pelo controle de pragas.
A ideia contagiou o Eduardo Goerl. Formado em Administração de Empresas,
o jovem sempre teve a aviação no sangue. Foi piloto de avião e depois de
um acidente começou a pensar em como era perigosa a vida dos pilotos, inclusive
os de aviação agrícola, com manobras e sobrevoos baixos. Dessa necessidade
surgiu a ARPAC. A startup, de Porto Alegre (RS), começou a se desenvolver
em 2014 e operar em 2016. Todo o material utilizado no processo é da empresa:
o drone, o software que controla o voo e o código que comanda o software.
A ARPAC atende hoje 14 grandes empresas do setor e a definição de valor
é feita por hectare percorrido, com valor negociado empresa a empresa.
Hoje as principais culturas atendidas são cana-de-açúcar, soja, café e
frutas como uva e banana.
E quais as vantagens do drone?
Entre as vantagens para o agricultor está a economia de defensivos usados
(em geral 80% menos), mais agilidade e precisão na aplicação e redução
de custos (até 55% menos do que a aviação agrícola). Além disso:
– Analisa a plantação: com imagens de alta definição é possível identificar
pragas e doenças, diferenças de cor que detectam fungos e até nematoides;
– Plantio: o equipamento pode ajudar na análise de quais áreas da propriedade
estão mais ideais para a semeadura; – Acompanhar a safra: podem ser feitos
voos regulares que captam imagens e ajudam a analisar o desemprenho da
lavoura no dia a dia; – Pastagem e solo: com monitoramento é possível ver
a qualidade do pasto e também ver em que pontos há necessidade de colher
amostras de solo para análise; – Água e estradas: pode identificar nascentes
e apontar as coordenadas para abrir uma nova estrada. – Vigilância: pode
sobrevoar fazendo a segurança da lavoura, armazéns e divisas, bem como
identificar pontos de incêndio; – Na pecuária: os usos não atendem somente
a agricultura. Na pecuária o drone pode ser usado para tocar a boiada,
para monitorar, contar o gado, achar animais perdidos ou doentes.
Negócio milionário
A ARPAC é um bom exemplo da importância do drone para o agro. A startup
acaba de captar um aporte de R$ 1,3 milhão para investir em expansão e
suporte em cinco polos do agro estratégicos em logística e divulgação direto
ao produtor. As cidades são: Jataí (Goiás), Jaú (São Paulo), Piracicaba
(São Paulo), Porto Alegre (Rio Grande do Sul) e Sorriso (Mato Grosso).
Anteriormente a empresa já contava com R$1,2 milhão. Ao todo, o negócio
captou 2,5 milhões de reais em aportes.
O Portal Agrolink conversou com o Eduardo que ajuda a esclarecer mais
dúvidas sobre a aplicação dos equipamentos no campo. Logo abaixo temos
um vídeo mostrando na prática o trabalho?
Portal Agrolink: Como você observa esse crescimento do uso de drones na
agricultura? Tem muito potencial a ser desenvolvido ainda?
Eduardo Goerl:A agricultura é enormemente beneficiada pelo uso de
drones. Atualmente usamos drones para uma série de tarefas no campo que
até pouco tempo atrás eram inviáveis financeira e operacionalmente para
o produtor, e fazemos isto de uma maneira muito simples, com equipamentos
estáveis e com operação automática. Já são muitas as aplicações de drones
na agricultura. Todas têm potencial de reduzir o custo para o produtor
e aumentar a produtividade. Diariamente estamos buscando novas soluções
para os desafios da lavoura e ainda temos um longo caminho de descobertas
e evolução nas tecnologias já existentes.
Portal Agrolink: Qual o diferencial quando se trata de pulverização?
Eduardo Goerl:A pulverização de químicos por drones é ideal para as
aplicações localizadas e áreas difíceis. Se considerarmos as tecnologias
de aplicação já existentes, como costal, trator, avião e helicóptero, o
drone tem enorme vantagem de custo, velocidade e uniformidade de aplicação.
Se compararmos um processo de “catação” de ervas daninhas em cana-de-açúcar
(aplicação localizada), a mesma atividade com pulverizador costal teria
uma duração muito maior e dificilmente teria a mesma qualidade de aplicação,
o pulverizador não poderia entrar com estágio avançado da cultura e o helicóptero
tem um custo total de operação maior que o drone. No mercado da soja, estudos
mostram o impacto de plantas resistentes, como a Buva e o Capim Amargoso,
para estes casos, também a aplicação localizada é uma solução que entrega
qualidade de aplicação e velocidade necessária ao produtor. No caso de
culturas como café, uva e banana, a pulverização por drone mantém distância
constante do terreno mesmo em regiões montanhosas, dando ao produtor a
possibilidade de controlar de doenças e pragas com agilidade.
Portal Agrolink: Qual tua área de atuação hoje (regiões e culturas)? Ideias
de expandir?
Eduardo Goerl:Hoje trabalhamos com imagens, em parceria com a startup
israelense Taranis, com liberação de inimigos naturais como Cotésia e Trichogramma,
com a startup Agribela e fazemos pulverização de químicos. Estamos no Rio
Grande do Sul, com base em Porto Alegre, em São Paulo, com base em Piracicaba
e Jaú, em Jataí – Goiás e em Sorriso – Mato Grosso. Oferecemos pulverização
e imagens em todos as unidades e biológicos nas unidades do estado de São
Paulo.
Portal Agrolink: Drone e produto biológico é um bom casamento sustentável?
Eduardo Goerl:O controle biológico cresce a passos largos no mundo.
Mesmo assim, a aplicação destes produtos em grande parte ainda é feita
de forma rudimentar, com trabalhadores caminhando nas lavouras e soltando
estes insetos em copos plásticos. O drone permite a liberação destes inimigos
naturais de forma precisa, controlada e rápida. Por isto acreditamos no
potencial e apostamos neste casamento.
Portal Agrolink: Expectativas de expandir na próxima safra?
Eduardo Goerl:A preocupação da ARPAC é sempre conseguir entregar resultados
ao produtor rural. Por isto mantemos relacionamento com nossos clientes
e buscamos ouvir deles como foram nossas aplicações. Na mesma linha, investimos
em pesquisa e desenvolvimento constante para aprimorar nossa solução e
assim também trabalhamos nosso diferencial competitivo, que é a técnica
de aplicação correta. As unidades de Piracicaba, Jataí e Sorriso foram
inauguradas neste mês de Outubro para atender a próxima safra. Para a safra
2020/2021, pretendemos aumentar nossa presença nas unidades atuais, com
mais equipamentos e pessoal, e estudamos abrir outros modelos de negócios.